Por Jonathas Oliveira
Inverno melhor que o esperado na Europa e fim das políticas sanitárias na China trouxeram otimismo para ativos de risco, enquanto dados de emprego nos EUA aumentaram a preocupação com a inflação. Cenário político conturbado acarretou volatilidade na curva de juros brasileira e segurou desempenho mais forte do Ibovespa.
BRASIL
A atividade econômica brasileira apresentou leve melhora na passagem de dezembro para janeiro, segundo os dados do PMI. O maior vetor positivo foi a indústria, que saiu de 44,2 para 47,5 pontos, ainda em patamares contracionistas, porém, com menor desaceleração. Enquanto isso, o índice de serviços reduziu levemente, de 51,0 para 50,7 pontos, bem distante do pico de 60,8 em junho. Dessa forma, o PMI Composto evoluiu de 49,1 para 49,9 pontos, praticamente em linha com o ponto de estabilidade (50 pontos).
Na conjuntura política, as falas do atual presidente Lula mais uma vez trouxeram volatilidade ao mercado. O assunto da vez foi a independência do Banco Central, onde o presidente criticou o aperto monetário promovido pela autoridade monetária e defendeu uma maior tolerância com a inflação através da mudança no regime da meta, atualmente em 3,25% para 2023 e 3% para 2024 em diante.
Do lado política monetária, o Copom manteve a Selic em 13,75% pela quarta reunião seguida. O Comitê destacou a preocupação quanto à desancoragem das expectativas inflacionárias no horizonte relevante, que já estão em 3,93% e 3,50% para 2024 e 2025, respectivamente. Também trouxe a possibilidade de manter a taxa nesse patamar até o terceiro trimestre de 2024 e que, caso a política fiscal não colabore, poderá haver algum movimento de alta nos próximos meses.
Na frente inflacionária, o IPCA apresentou inflação de 0,53% no mês de janeiro frente a alta de 0,62% de dezembro e acumula alta de 5,77% nos últimos 12 meses. A alta veio levemente abaixo da esperada pelo mercado, que estimava inflação de 0,57%, segundo consenso Refinitiv. Alimentação e bebidas (0,59%) e Transportes (0,55%) impactaram o índice, conjuntamente, em 0,24 p.p.. Os maiores destaques individuais foram a batata-inglesa (14,14%) e a gasolina (0,83%).
MUNDO
Os resultados da inflação americana trouxeram otimismo para o mercado e ajudaram na recuperação dos ativos de risco nesse início de ano. O CPI caiu 0,1% em dezembro na comparação mensal ante expectativa de estabilidade. Na comparação anual, o índice subiu 6,5%, com o maior destaque ficando com o grupo de serviços, que contribuiu com 4,05 p.p. no resultado. Vale ressaltar que o CPI chegou ao patamar de 9,1% no acumulado de 12 meses em junho e só chegou a cair devido à normalização do preço do petróleo.
Em relação à atividade econômica, o PIB americano avançou 2,9% no quarto trimestre, levemente acima da expectativa de 2,6%. Serviços, investimento em estoques e uma balança comercial mais favorável foram os principais responsáveis pela evolução observada no período. Já o setor imobiliário contribuiu negativamente com 1,3 p.p.. Vale salientar que o país criou 517 mil vagas fora do setor agrícola em janeiro, bem acima da expectativa de criação de 185 mil vagas. A taxa de desemprego caiu para 3,4%.
Na política monetária, o Federal Reserve reduziu o ritmo de ajuste na taxa de juros de 0,50 p.p. para 0,25 p.p., passando para um valor entre 4,50% e 4,75%. A autoridade monetária reconheceu o enfraquecimento do nível de atividade em alguns setores pontuais, todavia, ainda demonstra preocupação com o mercado de trabalho apertado, o que levou o banco central americano a prever novas elevação de juros, na magnitude de 0,25 p.p., em 2023.
Na Zona do Euro, as expectativas melhoraram após o inverno ter sido menos rigoroso do que o esperado. Dessa forma, a inflação no bloco econômico caiu de 9,2% em dezembro para 8,5% em janeiro na comparação anual, puxada pela forte redução do preço do gás natural, que caiu cerca de 24% nesse início de ano. Contudo, mesmo com o arrefecimento do índice cheio, o núcleo da inflação continuou estável em 5,2% de dezembro para janeiro.
Dessa maneira, o BCE subiu a sua taxa de juros em 0,50 p.p., de 2,5% para 3,0%, e prevê outro ajuste de mesma magnitude na próxima reunião e condicionou os próximos ajustes à trajetória dos efeitos da política monetária.
O otimismo do mercado com a China melhorou bastante, mesmo com o crescimento do PIB modesto de 3% em 2022, devido ao fim das medidas sanitárias contra a Covid-19. Destaca-se que a China é uma das únicas grandes economias do mundo que está em processo de expansão monetária e fiscal, visto que sua inflação se apresenta como controlada, ao patamar de 1,8% na base anual.
Vale ressaltar que a reabertura da economia chinesa possui impacto favorável a recuperação da economia global, entretanto, o retorno das atividades, com o consequente aumento no nível de mobilidade da população, deve trazer novas pressões inflacionárias sobre algumas commodities.
CONCLUSÕES
Janeiro foi marcado novamente pelo movimento de abertura na ponta longa e intermediária da curva de juros, ocasionado pelos comentários do atual presidente eleito acerca da independência do Banco Central e sobre responsabilidade fiscal. Dessa forma, o mercado continua a precificar Selic terminal em 13,75%, diferente de dezembro, quando chegou a precificar mais uma elevação de juros em 2023. Todavia, a expectativa de quando será possível realizar o primeiro corte na taxa de juros é postergada e o custo de rolagem da dívida pública se deteriora.
Os índices de baixa duration e pós-fixados foram os principais destaques da renda fixa. O IDkA IPCA 2A e o IMA-B 5 se aproveitaram da expectativa de inflação mais elevada, enquanto o IRF-M 1 e o CDI conseguiram tirar da vantagem da Selic em patamares elevados. A única variação negativa foi no IMA-B 5+, que foi impactado pela abertura da curva de juro real de longo prazo ocasionada por discursos políticos.
A renda variável nacional, apesar da volatilidade, conseguiu rentabilizar positivamente em janeiro, puxada pelo forte fluxo de entrada, por parte de investidores estrangeiros. A redução no ritmo do aperto monetário promovido pelo Fed e a reabertura da China foram os principais vetores positivos para a bolsa brasileira no período.
A renda variável internacional também iniciou o ano no campo positivo. Assim como no Brasil, os índices acionários globais foram beneficiados pela política levemente mais acomodatícia do Fed, o arrefecimento da inflação na Europa e a retomada da economia chinesa. Vale ressaltar que a probabilidade de recessão econômica mundial reduziu nesse início de ano, a medida em que a inflação demonstra um comportamento mais favorável e a atividade econômica segue resiliente, aumentando a possibilidade de um “pouso suave” na economia mundial
Diante desse cenário, seguimos com nossa recomendação de exposição em ativos pós-fixados e prefixados de baixa duration, visto que a Selic elevada segue como uma grande oportunidade de bater a meta sem incorrer em grande risco. Outra estratégia interessante é manter o IMA-B 5 na carteira, uma vez que a inflação ainda se encontra em níveis elevados e corre sério risco de voltar a acelerar caso o fiscal não cumpra com o seu papel.
Destaca-se que a aplicação direta em títulos públicos, privados e fundos vértice seguem como nossas principais estratégias para reduzir a volatilidade da carteira e garantir retorno acima da meta atuarial. Contudo, deve se levar em consideração a liquidez do portfólio e a necessidade de recursos para pagamento do passivo, tendo em vista que são estratégias com prazo de vencimento e carência.
Na renda variável nacional, admitimos que os múltiplos estão bastante descontados, entretanto, a curva de juros ainda está muito pressionada pelo risco fiscal, dessa maneira, o valuation das companhias fica parcialmente comprometido. Portanto, somos cautelosos quanto à uma exposição muito elevada em bolsa brasileira.
Para o exterior, ainda somos pessimistas com as economias desenvolvidas, dado que o discurso dos principais bancos centrais ocidentais ainda é de manter a taxa de juros elevada por mais tempo. Vale ressaltar que o mercado ainda está em processo de revisão das expectativas de lucro das empresas de 2023 e a economia ainda não foi impactada pelo processo de aperto monetário, dado os efeitos defasados da política monetária.
ELABORAÇÃO
Jonathas Oliveira
REVISÃO
Matheus Crisóstomo
Gregório Matias
DIAGRAMAÇÃO
Thais Medeiros
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