Por Gregório Matias
Investimento é um tema que pouco faz parte do dia a dia dos brasileiros. É certo que este assunto hoje é muito mais falado do que era há algum tempo, mas ainda assim julgo ser bem escasso. É necessário entendermos um pouco da evolução do nosso modo de vida para entendermos o porquê disso hoje ser uma realidade para nós.
Antes da estruturação dos regimes de previdência que conhecemos hoje no Brasil (RGPS e RPPS) a responsabilidade pelo cuidado e sustento dos idosos e inválidos ficava a cargo de cada família. Era no ambiente familiar que essa população, majoritariamente rural e de grande quantidade de filhos, se organizava para que os mais velhos tivessem o direito ao descanso ou à redução da carga de trabalho. Não havia um sistema de previdência ou um Estado que garantisse serviços públicos universais da forma que conhecemos hoje.
Após os anos 30, as iniciativas que viriam a ser a base do sistema de previdência que conhecemos hoje começaram a mudar essa ideia na cabeça das famílias. Com o advento das caixas e institutos de aposentadoria, algumas categorias profissionais começaram a ter uma alternativa de aposentadoria que não dependesse dos seus filhos. Esses profissionais, em sua maioria urbanos, passaram a garantir suas aposentadorias, ou o sustento de suas famílias, no caso de sua falta, através de contribuições com base no seu salário mensal.
É certo que, ainda na década de 20, quando essas primeiras previdências surgiram no Brasil, o seu regime era de capitalização, ou seja, contribuía-se com uma quantia que seria acumulada a ponto de garantir os benefícios futuros. Ocorre, no entanto, que essa realidade mudou a partir do momento em que o Estado passou a ser o fiador da aposentadoria das pessoas. A partir desse momento criou-se no imaginário coletivo a ideia de que bastaria a contribuição à previdência social para se garantir o seu futuro. E isso funcionou enquanto a demografia e a urbanização jogaram a favor da estrutura.
Ora, no início do implemento do sistema de previdência as famílias ainda eram grandes, a taxa de fecundidade passava de 6 filhos e foi esta geração de contribuiu para que a aposentadoria dos seus pais e avós fosse tranquila. Havia, também, o fato de as pessoas viverem menos e, dessa forma, utilizarem-se menos da previdência após se aposentar. Os filhos da geração dos cinco irmãos (nascidos nas décadas de 40 e 50), tornaram-se trabalhadores urbanos e passaram a ter em média três filhos.
Essa geração, pode-se falar, que foi a que deu início ao processo de ruína do sistema de previdência que deu tão certo para os seus pais. Outro problema sério é que a maioria dessa geração, assim como os seus pais e avós, contavam com o sistema de previdência para o seu futuro e, em sua maioria, não formaram poupança suficiente para complementar os seus rendimentos.
A sua sorte é que a urbanização e a medicina jogaram ao seu favor e aumentaram a sua expectativa de vida, tornando possível que se pudesse trabalhar por mais tempo do que os seus antepassados. Certamente não é o que eles desejaram no passado, mas foi o que contribuiu para que muitos pudesse manter seus rendimentos.
A geração mais nova, aqueles nascidos após os anos 70, hoje vêm o que os seus pais passam e não desejam o mesmo para a sua velhice. Sabem que o sistema de previdência pública, em que pese cumprir o seu importante papel de assegurar o básico, está longe de garantir uma aposentadoria tranquila e, desta forma, necessitam preparar-se de forma individual para o futuro.
Por este motivo os temas de educação financeira e investimentos tem surgido agora com mais força. Some-se a isto a tendência de redução nas taxas de juros a nível global na última década. Não é mais tão fácil conseguir uma boa rentabilidade e nem é mais tão simples escolher um bom investimento, mas hoje a informação está muito mais fácil do que a alguns anos e o mercado tem ofertado uma gama de serviços de forma a melhorar a decisão de investimentos e de auxiliar as pessoas no processo de formação poupança e de escolha de ativos.
Enfim, pelo bem ou pelo mal, este é o mundo que está posto esta geração: A previdência pública cumpre seu importante papel, mas é na austeridade privada e na disciplina financeira que a tranquilidade financeira futura tem chance surgir.