RESUMO
No Brasil, risco fiscal e continuidade do ciclo de aperto monetário afetaram negativamente os mercados. No cenário global, as incertezas acerca das tensões comerciais entre China e Estados Unidos fecham o ano de 2024 trazendo cautela.
NO BRASIL
A atividade econômica continua a apresentar crescimento, apesar de demonstrar certa desaceleração. O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) avançou 0,14% em outubro, após 0,88% em setembro. Com o resultado, o indicador acumula alta de 3,69% no ano e de 3,43% em 12 meses. Outros indicadores, como o Índice de Gerente de Compras (PMI, na sigla em inglês) de novembro, demonstraram resultados semelhantes, com os setores de serviços e indústria desacelerando em relação ao mês anterior, mas permanecendo em patamar de crescimento.
Ainda no que tange à atividade econômica, o mercado de trabalho continua aquecido, com a taxa de desocupação recuando para 6,1% no trimestre encerrado em novembro. No que se refere ao rendimento real habitual, este alcançou R$ 3.285, avançando frente aos R$ 3.263 do trimestre encerrado em agosto.
Em relação à inflação, o IPCA-15, prévia da inflação oficial do país, teve alta de 0,34% em dezembro, vindo abaixo do esperado pelo mercado (0,45%). O acumulado em 2024 foi de 4,71%, ficando acima da margem de tolerância da meta de inflação perseguida pelo Banco Central. Dos nove grupos que compõem o indicador, cinco apresentaram alta no mês, com o destaque sendo para Alimentação e bebidas, que variou 1,47% e impactou o índice geral em 0,32 p.p..
Em sua última reunião do ano, o Copom decidiu, em unanimidade, por elevar a taxa Selic em 1,00 p.p., para 12,25% a.a., e ressaltou que, se confirmado o cenário esperado, antevê ajustes de mesma magnitude nas próximas duas reuniões e que o ciclo de aperto monetário será ditado pelo compromisso de convergência da inflação à meta.
No que tange às contas públicas, o Bacen divulgou no final do mês o relatório de Estatísticas Fiscais referente a novembro. O setor público consolidado registrou déficit primário de R$ 6,6 bilhões no mês e de R$ 192,9 bilhões em 12 meses, equivalente a 1,65% do PIB. Os juros nominais do setor público não financeiro consolidado, que representa os custos totais pagos pelo governo sobre sua dívida, desconsiderando as estatais ligadas ao mercado financeiro, acumularam R$ 918,2 bilhões em 12 meses, impulsionando o déficit nominal para R$ 1,11 trilhão (9,50% do PIB).
NO MUNDO
Em dezembro, o banco central dos Estados Unidos decidiu reduzir novamente a taxa básica de juros em 0,25 p.p., para a faixa de 4,25% a 4,50% ao ano. A decisão veio em linha com o esperado pelo mercado e refletiu as preocupações da autoridade monetária em relação ao sólido ritmo da atividade econômica. Ainda que tenha subido abaixo do esperado, a inflação medida pelo PCE acelerou para 2,4% em novembro, após 2,3% em outubro, na base anual. O resultado corroborou com as estimativas de maior pressão inflacionária na economia americana em 2025 e, por conseguinte, com as projeções de que o Fed reduzirá o ciclo de flexibilização de juros.
A atividade econômica resiliente refletiu na leitura final do PIB do terceiro trimestre de 2024, que expandiu a uma taxa anualizada de 3,1%, acelerando após o avanço de 3,0% no trimestre imediatamente anterior, impulsionado por um aumento nos gastos dos consumidores e no volume de exportações.
O desafiador cenário econômico da zona do euro levou o Banco Central Europeu a reduzir a taxa de juros em dezembro, em 0,25 p.p., para 3% a.a., realizando a quarta redução de juros em 2024. Para 2025, há uma perspectiva mais cautelosa para o afrouxamento monetário, refletindo incertezas relacionadas a fatores como as possíveis tarifas de importação por parte dos Estados Unidos e os desdobramentos econômicos decorrentes das eleições na Alemanha, a maior economia do bloco.
A inflação da zona do euro acelerou ligeiramente em novembro, mas permanece em linha com a meta do BCE, com uma taxa anualizada de 2,2%, após registrar alta de 2,0% no mês anterior, sugerindo um processo de desinflação sustentado. No que se refere à atividade econômica, a fraqueza do setor industrial, que não apresenta perspectivas de melhora no curto prazo, permanece puxando atividade econômica do bloco para o campo de contração, apesar da melhora do PMI Composto de dezembro, que passou de 48,3 para 49,5.
A economia da China também apresenta incertezas para o ano de 2025, sobretudo em relação à provável implementação das novas políticas protecionistas nos Estados Unidos, defendidas pelo presidente Donald Trump. No que tange à atividade econômica, a produção industrial chinesa perdeu força, com o PMI/ Caixin caindo de 51,5 para 50,5 na passagem de novembro para dezembro.
Apesar de o mercado permanecer aguardando reforços de suporte fiscal e monetário para impulsionar a atividade do país, em dezembro, o Banco Central da China decidiu manter as taxas de juros inalteradas, repetindo a deliberação de novembro. O cenário para a implementação de novos estímulos para a economia do país permanece em aberto.
Para 2025, espera-se que as medidas por parte do governo para o suporte interno fortaleçam a economia da China a fim de que os possíveis impactos externos possam ser mitigados, caso o conflito comercial com os Estados Unidos se materialize.
INVESTIMENTOS
Fonte: Quantum Axis. Elaboração: LEMA
Dezembro foi mais um mês volátil e bastante negativo para os mercados. No que tange aos ativos de renda fixa domésticos, apenas aqueles mais conservadores, como CDI (0,93%) e IRF-M 1 (0,70%) permaneceram no campo positivo, enquanto os mais voláteis, como IMA-B 5+ e IRF-M 1+ foram os destaques negativos ao recuarem 4,37% e 2,96%, respectivamente.
Na renda variável, o Ibovespa apresentou desvalorização de 4,28% em dezembro, enquanto o S&P 500 caiu 2,50%. Por fim, o Global BDRX subiu 4,64%, impulsionado pela desvalorização do real. O dólar finalizou o mês cotado a R$ 6,18.
CONCLUSÃO
Fonte: Comdinheiro. Elaboração: LEMA
A abertura da curva de juros reflete não só a desancoragem das expectativas de inflação, mas também a projeção de crescimento da dívida pública nos próximos anos, refletindo a dificuldade do governo em conter gastos, a desaceleração econômica esperada e o aperto monetário, que aumenta o custo de financiamento, o que eleva a aversão ao risco de investidores.
Apesar do provável cumprimento da banda inferior da meta do arcabouço fiscal em 2024 (gastos extraordinários com o Rio Grande do Sul não foram contabilizados), de déficit de 0,25% do PIB, as incertezas com o futuro próximo têm preocupado. O cumprimento da meta em 2025 dependerá de receitas incertas (que dependem da aprovação de elevação de tributação pelo Congresso), da efetividade de medidas de pente-fino em programas sociais e do ritmo de crescimento das despesas.
Neste cenário de juros elevados, a alocação em investimentos mais conservadores, como fundos indexados ao CDI, permanece em destaque, pois estes continuam entregado retornos condizentes com a meta atuarial e, com as projeções de novas altas nos juros, este retorno deve continuar superando a meta ao longo de 2025.
Por fim, a elevação das taxas de rentabilidade dos títulos nos últimos meses destaca a atratividade da compra direta de títulos públicos e letras financeiras, assim como da aplicação em fundos de vértice, que continuam a oferecer retornos acima da meta atuarial dos RPPS. Além de superar a meta, a aquisição direta de títulos proporciona a possibilidade de marcação na curva, uma prerrogativa que auxilia na gestão de riscos e reduz a volatilidade da carteira.
Fonte: Focus (27/12/2024) e Selic e IGP-M fechados em 2024.
ELABORAÇÃO
Felipe Mafuz
Bruna Araújo
REVISÃO
Matheus Crisóstomo
Gregório Matias
EDIÇÃO
Tamyres Caminha
DISCLAMER
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