Panorama Econômico – Mai/22

Por Lucas Cabral e Jonathas Oliveira

Ativos de risco caem forte após política de tolerância zero contra a Covid-19 na China aumentar o temor de que um novo choque de oferta obrigue os bancos centrais a acelerarem o ritmo de aperto monetário. Federal Reserve elevou a taxa de juros em 0,50 p.p., mas descartou alta de 0,75 p.p. Expectativa de que o ciclo de alta de juros no Brasil esteja perto do fim não foi o bastante para evitar queda superior a 10% do Ibovespa e o retorno do dólar a patamar superior a R$ 5.


BRASIL


A atividade econômica nacional apresentou resultados satisfatórios no mês de março, porém, alguns setores ainda apresentam dados fracos em relação à série histórica. As vendas no varejo apresentaram crescimento de 1% em março na comparação mensal, bem acima do consenso Refinitiv, que estimava alta de 0,4%. A produção industrial também registrou alta em março (0,3%), ficando acima da projeção de 0,1%, porém, o setor ainda se encontra abaixo dos patamares pré-pandêmicos. Em serviços, o setor atingiu o maior nível desde 2015 ao expandir 1,2% na comparação mensal e reverter a queda no início do ano.

O cenário inflacionário brasileiro continua acelerando na medida em que as distribuidoras de combustível vão repassando a elevação nos custos para os consumidores. Isso é evidenciado pelo resultado do IPCA de abril, que subiu 1,06% frente a 0,95% em março e acumula alta de 12,13% nos últimos 12 meses. Alimentação e Bebidas (2,06%) e Transportes (1,91%) foram os grupos que mais impactaram o índice, com 0,43 p.p. e 0,42 p.p., respectivamente. O grupo de Habitação (-1,14%) foi o único que apresentou variação negativa no mês, conforme esperado, devido ao retorno para a bandeira tarifária verde na energia elétrica.

Tratando-se de política monetária, o Copom elevou a Selic para 12,75%, aumento de 1 p.p. em relação ao último encontro, e sinalizou um ajuste de menor magnitude na próxima reunião, que também deve marcar o fim do ciclo de alta de juros. Analistas têm a expectativa de taxa de juros terminal entre 13,25% e 13,50% em 2022.

Dessa forma, a grande questão do momento é por quanto tempo será necessário manter a Selic nesse patamar até que seja possível haver algum corte. Atualmente, a pesquisa divulgada pelo Boletim Focus estima que 2023 deve encerrar com taxa em 9,25%, entretanto, essa previsão vem sofrendo correção para cima nas últimas semanas.


MUNDO


A China continua impondo lockdown nas principais cidades do país como Xangai e Pequim, que estão isoladas e sem previsão de reabertura. Vale ressaltar que 27% das exportações chinesas vêm de Xangai. Dado que o país asiático é o maior exportador do mundo, uma interrupção das atividades eleva o grau de risco para a inflação global por causar um novo choque de oferta.

As previsões de crescimento do PIB chinês foram impactadas pela política de tolerância zero contra a Covid-19. O FMI reduziu as expectativas em 0,04 p.p., passando de 4,8% para 4,4% em 2022, sendo que a meta do governo chinês é de 5,5%. Visando atingir este objetivo, as autoridades tomaram diversas medidas para impulsionar a economia, dentre elas: redução dos compulsórios nos bancos, corte de taxa de juros e elevação dos gastos fiscais em projetos de infraestrutura.

Nos Estados Unidos, os dados não foram animadores. O PCE (Índice de Preços para Gastos de Consumo Pessoal), principal indicador de inflação utilizado pelo Fed), acelerou em março, saindo de 6,3% para 6,6% no acumulado dos últimos 12 meses. Já o núcleo da inflação, que exclui itens voláteis como alimentos e combustíveis, reduziu para 5,2% na comparação anual, ante os 5,3% registrados em fevereiro. Apesar da pequena desaceleração do núcleo, o resultado ainda se encontra muito acima da meta de 2% do Fed.

Além disso, o mercado de trabalho continua apertado. A taxa de desemprego de abril permaneceu em 3,6% e o relatório JOLTS , que mede a relação entre vagas de emprego e número de desempregados, subiu para 1,94 em março. Na prática, isso significa que existe 1,94 vaga aberta para cada desempregado no país.

Visto o atual cenário de pressões inflacionárias no lado da oferta e da demanda, o Federal Reserve elevou a taxa de juros em 0,50 p.p., maior alta em 22 anos, conforme esperado por boa parte do mercado. O grande destaque ficou com o comentário do presidente do Fed, Jerome Powell, que afirmou que uma elevação de 0,75 p.p. ainda estava fora de cogitação. A declaração acalmou o mercado em um primeiro momento, pois uma parte dos investidores temia uma aceleração ainda mais forte.

Outro ponto importante foi a divulgação de como se dará o runoff (redução do balanço do Fed). A autoridade monetária pretende reduzir o balanço em US$ 47,5 bilhões mensais durante 3 meses, a partir do dia 1º de junho, e, posteriormente, aumentará esse montante para US$ 95 bilhões mensais. Todo o processo será via não-reinvestimento, isso é, o banco central espera o ativo chegar ao seu vencimento e retém o valor, não o reinvestindo no mercado.


CONCLUSÕES


A curva de juros – spot (gráfico abaixo) apresentou elevação em todos os seus vértices, quando comparado ao início de mês. O mercado chegou a se acalmar após o resultado do IPCA-15 registrar alta abaixo do esperado, mas o pessimismo voltou após a reunião do Fed e do Copom.

A renda fixa, com exceção do IRF-M e IRF-M 1+, conseguiu rentabilizar positivamente em abril. O maior destaque ficou para os índices mais conservadores, quais são: IRF-M 1, CDI, IDkA IPCA 2A e IMA-B 5.

A renda variável nacional apresentou forte queda em abril, advinda das condições monetárias desfavoráveis e do lockdown na China, que impactou negativamente o preço das commodities. O Ibovespa caiu 10,10% e chegou a devolver todos os ganhos do ano no intraday com o fluxo favorável de capital estrangeiro sendo revertido com os temores em relação aos impactos do lockdown na China e a postura que os bancos centrais mundiais irão tomar frente a esse cenário.

A renda variável internacional registrou mais um mês com desempenho negativo, sendo que a desvalorização das bolsas internacionais foi parcialmente compensada pela alta do dólar, o que explica o retorno superior do Global BDRx em comparação ao S&P 500 e em comparação com o resultado registrado nos meses passados.


Fonte: Quantum Axis

Diante de um cenário com elevado nível de incerteza, é essencial que o investidor busque, nesse momento, proteger o seu patrimônio de situações adversas. Portanto, sugerimos investimentos em ativos pouco voláteis e/ou descorrelacionados entre si, mantendo assim uma boa diversificação de carteira.

Na renda fixa, reiteramos a necessidade de encurtar a duration da carteira, ou seja, buscar ativos cujo prazo de vencimento dos seus ativos seja menor, como CDI, IDkA IPCA 2A e IMA-B 5, que são a nossa principal recomendação para 2022, visto que o CDI deve se manter em patamares elevados e o IDkA IPCA 2A e o IMA-B 5 possuem proteção natural contra o aumento de preços no curto prazo, por serem indexados ao IPCA.

Na renda variável, o cenário ainda é bastante turbulento, com eleições se aproximando e uma conjuntura econômica mundial desfavorável, orientamos cautela na alocação neste segmento. Procuramos nos aproveitar das oscilações de curto prazo para aumentar a posição em bolsa, quando estiver descontada, e diminuir a posição quando houver uma valorização mais forte do que o esperado.

 

No mais, destacamos que uma possível reversão da desaceleração da economia chinesa e o arrefecimento da inflação global, assim como um aceno ao mercado dos principais candidatos à presidência da República seria altamente benigno para os ativos de risco. Entendemos que mesmo com o elevado nível de instabilidade, manter parte dos recursos investidos em ativos de risco se faz necessário para também compilarmos uma possível mudança de cenário.

Com relação aos investimentos no exterior, a estratégia principal é a diversificação entre os mercados e alocação em ativos dolarizados. O Fed deve continuar o ciclo de alta de juros na casa de 0,50 p.p. e não acreditamos que uma alta de 0,75 p.p. deve ser totalmente descartada. Apesar do viés negativo para a bolsa americana, vemos como indispensável alocar parte dos recursos em dólar para otimizar o desempenho do portfólio, uma vez que a inversa correlação da moeda com o mercado brasileiro permite a suavização dos retornos da carteira no longo prazo.


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